Quando iniciei esta série, para além da razão subjacente à necessidade de pintar algo, esteve também presente a necessidade de perverter e contrariar algo que ao longo dos tempos se vem a acentuar, na relação da Literatura com a Pintura. Esta tendência é a de a Pintura ser usada como disciplina de adorno à obra literária, sendo evidente e recorrente a subalternização do acto criativo do pintor ao do escritor, quando reunidos para produzir obra (na montagem de teias narrativas e não só…). E se esta prática tem dado, apesar de tudo, tão bons frutos, porque não considerar o trajecto criativo deste binómio invertendo a ordem da disciplina que dá o mote?
O que neste grupo de trabalhos me propus foi lançar para a reflexão o exercício da inversão deste paradigma, criando obras de pintura passíveis de despertar o interesse da escrita, algures, por alguém e em algum momento.
Assim, e da mesma forma que a Literatura vive da construção e do uso de imagens e ideias, nestes trabalhos, todas as personagens foram elaboradas tendo em conta uma elevada carga literária em todos os seus aspectos, com o propósito de induzir em quem os vê a vontade ou necessidade de deslindar e por a nú a história que, para cada um de nós, eles carregam, passando eu, como pintor, de desafiado a desafiador.
fg
o perito, 2002, acríl. sobre tela, 100x80cm, col. particular
o cardeal e a pêga, 2002, acríl. sobre tela, 120x100cm, col. particular
a galinha e o violoncelo, 2002, acríl. sobre tela, 100x80cm, col. particular
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