sábado, 5 de outubro de 2013

> Argonautas


Casa-Museu Teixeira Lopes 
[brevemente]

Da leitura de Jasão e os Argonautas (lenda da mitologia grega que narra a viagem do filho do rei Éson e de mais cinquenta heróis gregos a Cólquida em busca do Tosão de Ouro, a tão cobiçada e inacessível lã de ouro do carneiro alado Crisómalo) surge lentamente e desde alguns meses a vontade de tratar o tema. Pelo inexplicável processo que leva à formação da vontade e do ainda mais inexplicável que leva à criação, vi-me envolto nesta viagem, a bordo do grande Argo, lado a lado com estes heróis. partilhando medos e conquistas. Cheguei a pensar “recontar” a história ou parte dela; logo aí teria o problema de escolher quais os episódios que mais me tocavam; missão ingrata, tal é a riqueza da obra; foi então ficando mais clara na minha cabeça a ideia de “destilar” a obra, ater-me às suas personagens, resumir uma a uma a um objecto-icone; nóz-semente, cabeça singular, crânio que se transforma em elmo, ou vice-versa; condensar até ao símbolo. sinal e lugar da unicidade e da simultânea pluralidade, que se completa, transforma e alcança. Transformação que da viagem resulta. Este é um dos resultados possíveis. A obra fez-se assim, inacabada. A obra é sempre uma viagem a cumprir.
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

> Rainhas Negras


























A mão pousou o destino no véu mais claro, na cadeira esculpida. Eram tempos do princípio e dos demorados ruídos da noite. Na cadeira esculpida, o lugar do corpo feminino sem dono, hirto. Quase o nada, potente, completo e estéril como uma igreja ocupada sem pressa, em silêncio. Respirado e espesso. 

Na imobilidade das pedras cercantes, no luzente das lanças, no desconforto do poder, no poder do medo, fecha-se o olhar e o gesto, cingindo o dia das flores, a grande manhã da vida. 
Ela guarda a promessa e o sossego das gentes, o devir das nações. Ela guarda a cor anil dos mares novos, no seu dentro negro e baço, no seu corpo relíquia, relicário. O corpo onde a vida não se arrepende da morte e o beijo sabe a especiarias e sangue quente. Corpo que desliza, quase pára, treme e palpita, quase nada, que sussurra gentileza sem desgovernado prazer. Corpo onde a pressa se trava no contorno cinzelado dos limites.

Brocardo exilante, negra viagem para fora da pele nova, transparente e pura. 
Sina, sulco lavrado em campo de mortos e pólvora, teimada contenda dos homens e das partilhas e...ela. Ela, sorte divina, escolha dos sábios da Terra, primeira e última na condição do Único. 

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