sábado, 2 de junho de 2012

o tacho do Gupta

















"tribute" 2002, textil
Guerra de la Paz


A propósito de uma conversa com um amigo, delicioso e frequente antro semanal do mal-dizer, purga e exorcismo do estado das coisas, da vida e das artes; dos aguaceiros de estrelas do nosso minúsculo firmamento, do gato por lebre em banho-maria, da escala desmedida que por cá se dá a alguns rasgos, noutras paragens, vulgares, da displicência com que se tratam algumas coisas que aqui pela nossa história remota e mais recente tem aflorado e cuja dimensão nem sempre foi tida em conta nem celebrada condignamente. Lugar este, de orgulhos e de lamentos. Terra pequena, de pequenas terras, que é o nosso país mal arrumado, freguesia proverbial, processional e abnegada. De benzeduras e genuflexóricas penitências, por cada “santo de pés de barro” sazonal que passa nas efémeras parangonas pré-pagas. 

A propósito, dizia, vieram à ultima conversa umas, supostas, novidades nacionais; mediáticas e insistentes, useiras e vezeiras do banco da frente da peneira oficial, espécie de broche de que não se livra a lapela; ousadas coisas de arregalar o olho, descobertas mirabolantes nunca vistas por cá, nem fora! Talvez eu exagere... talvez não... de qualquer forma arremeti com alguns exemplos pouco conhecidos, mas reveladores e desarmantes. Esses, por elegância e algum decoro, não mostrarei aqui. Aqui, deixo a minha nota de rodapé a essas referências e a reflexão que, penso, devemos fazer a estes casos, por razões compreensíveis mais anónimos, e a todos os outros que com um pequeno esforço de memória todos conheceremos.

Isto não compromete a qualidade do trabalho de ninguém que possa vir à memória quando vemos estes trabalhos de outras partes do mundo; relativiza a sua importância local. O importante, aqui ou noutros lugares e sobre todos os assuntos, é fazer a reflexão crítica possível; não confundir, claro, crítica atenta e esclarecida com crítica azeda e invejosa! Mas também não endeusar qualquer santito que nos apareça no burgo como se não houvesse amanhã nem mais mundo! Isso é parolice e provincianismo cultural. 
E isso é o que mais abunda neste nosso paisito, onde cada vez mais se assiste à desimportância das coisas da cultura, do olhar fino, da acuidade artística, da prática da sensibilidade, à desimportância do livre pensar humanista. Assistimos diariamente à secundarização Oficial e por Decreto daquilo que devia ser a principal e mais valiosa entidade da nossa sociedade: o individuo! Criativo no que escolhe fazer, respeitador do próximo e da Natureza, interventor e crítico com o mundo e o tempo onde vive: O CIDADÃO CULTO, numa SOCIEDADE DE CULTURA; o resto vem naturalmente, por acréscimo e como inevitável resultado! 
O que acontece é que cada vez mais somos "governados" pelos frutos desta DESINSCRIÇÃO OFICIAL (lembrei-me agora de José Gil...), por esta horde de arrivistas presunçosos, “novos ricos” da política e das leis, ganância à solta no grande espaço que é “a coisa pública”, mais os seus palacianos parceiros da malga, carcomendo cada segundo dum Tempo, sempre único de cada geração e de cada nação. 
Nesta espécie de nova "idade das trevas", disneylandia da palermice, em que toda a sorte de pequenas excrescências electrónicas, tremeluzentes e sem fios, nos anestesiam, dando a sensação trôpega de que temos tudo, sabemos tudo, tudo nos está acessível, nada há para descobrir...



"Pior do que o cego é aquele que não quer ver"

fg

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